Uma reflexão necessária às vésperas da eleição

Uma reflexão necessária às vésperas da eleição

Chega às minhas mãos um texto incrível (“E, depois das eleições, a vida continua…”), escrito pelo biólogo e sociólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador do Núcleo de Fé e Cultura da PUC-SP, e postado no site “Olhar Integral”, que difunde o pensamento sobre a doutrina social da Igreja Católica.

E vou direto ao ponto. Concordo plenamente que, ainda sem saber o resultado das urnas para presidente, é urgente pacificar os ânimos exaltados pela disputa polarizada. A pobreza, as dificuldades e as necessidades continuarão existindo na segunda-feira. E por alguns anos. É preciso enfrentar os desafios, as ameaças e superar tempos difíceis.

Como escreve Ribeiro Neto: “A construção de um país melhor é sempre um processo histórico que se alonga no tempo, que exige tanto a correção dos erros quanto a manutenção dos acertos. Sem um mínimo de consenso em torno a certos pontos, o Estado tem uma atuação errática e, forçosamente, ineficiente. Além disso, é necessário traçar limites claros tanto para os Poderes institucionais quanto para as forças sociais, de modo que todos saibam o que é desejável ou possível, o que não é desejado e até condenável – seja na vida econômica, nas pautas de costumes ou na esfera política propriamente dita. Por isso, a construção de consensos justos é uma prioridade para o Brasil que sai dessas eleições tão dividido e machucado, seja qual for o resultado.”

Diz mais: “Uma tendência instintiva no ser humano é o de espezinhar os derrotados. A história é narrada pelos vencedores, diz a sabedoria popular. Mas esse é um comportamento muito nocivo. O derrotado de hoje, frequentemente, é o vencedor de amanhã – e o ressentimento acumulado explode frequentemente sob a forma de um espírito vingativo e do desrespeito até aos direitos do outro. Cria-se uma espiral de rejeição, desprezo e agressividade, dificultando cada vez mais a construção de consensos que levem ao bem comum. Assim, para os eleitores do vencedor, é particularmente importante um esforço de controle para evitar a humilhação do adversário, para manter uma postura de acolhimento e um verdadeiro desejo de entendimento e construção de um projeto comum.”

Para Ribeiro Neto, “a vitória eleitoral é sinal de que se tem a maioria, não de que se está certo. A verdade não é decidida por um critério eleitoral. Podemos ganhar uma eleição tendo feito as opções erradas, assim como podemos perdê-la tendo feitas as corretas. Por isso, é oportuno que o vencedor não deixe de procurar entender as razões do perdedor. Deve, inclusive, procurar assimilar tudo aquilo que existe de verdadeiro na posição do outro – tanto para melhorar suas próprias propostas quanto para conseguir ainda mais apoio no futuro.”

São colocações pertinentes, principalmente no cenário atual. “Quem perde tende a se fechar, ressentido e magoado com os demais. É comum considerarmos que o outro ‘não sabe votar’ e, por isso, fez com que os maus ganhassem. Nos fechamos e perdemos cada vez mais a capacidade de dialogar e entender o outro. Porém, se nosso candidato perdeu é porque ele não conseguiu se apresentar para a maioria como o candidato melhor (ou o ‘menos pior’). Isso exige de nós uma reflexão crítica também de nossa posição.”

E por mais difícil que possa parecer, “é fundamental superar o vitimismo e o ressentimento, fazendo uma autocrítica severa e construtiva (que os cristãos tradicionalmente chamam de ‘exame de consciência’). Saber o que não conseguimos comunicar, o que não entendemos, onde nossas propostas estavam objetivamente erradas são passos fundamentais não só para tentar vencer da próxima vez, mas para sermos colaboradores reais na construção do bem comum.”

Sem esquecer que “as palavras do Papa Francisco, dirigidas justamente aos brasileiros, na Jornada Mundial da Juventude de 2013, são particularmente significativas nesse momento: ‘Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo. O diálogo entre as gerações, o diálogo no povo, porque todos somos povo, a capacidade de dar e receber, permanecendo abertos à verdade. Um país cresce, quando dialogam de modo construtivo as suas diversas riquezas culturais: a cultura popular, a cultura universitária, a cultura juvenil, a cultura artística e a cultura tecnológica, a cultura econômica, a cultura da família e a cultura da mídia […] Quando os líderes dos diferentes setores me pedem um conselho, a minha resposta é sempre é a mesma: diálogo, diálogo, diálogo. A única maneira para uma pessoa, uma família, uma sociedade crescer, a única maneira para fazer avançar a vida dos povos é a cultura do encontro; uma cultura segundo a qual todos têm algo de bom para dar, e todos podem receber em troca algo de bom’”.

Para finalizar, é importante saber ainda que “a responsabilidade para com o bem comum deve temperar tanto a euforia da vitória quanto a melancolia da derrota. Ter em mente aqueles que amamos – e, bom frisar, continuaremos a amar – e que votaram no outro candidato pode ser um bom começo para caminharmos rumo a um Brasil melhor.”

por Beto Richa


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